Meu propósito é o estudo da Carta de Paulo aos Gálatas. Para tanto fiz e já publiquei aqui no blog um resumo de sua vida e início de ministério em Antioquia. Apresento, agora, um resumo de sua primeira viagem missionária. Vale a pena desenvolver o estudo, acompanhando o texto bíblico em Atos 13 e 14. Você, que quer estudar a Biblia e aprender com o grande apóstolo, está convidado a fazer, tambem, esta fascinante viagem.
Um abraço,
Dnl
Antioquia da Síria: Ponto de partida
- Deixam a cidade de Antioquia, passam por Selêucia, ainda na Síria, onde embarcam rumo à ilha de Chipre.
Chipre:
- Pregam em duas cidades: Salamina e Pafos
Salamina
- Procuram a Sinagoga, onde anunciam a Palavra e, parece, foram bem recebidos.
- João Marcos, sobrinho ou primo de Barnabé, é mencionado como auxiliar e companheiro de viagem.
- Continuam viagem, atravessando toda a ilha e chegando à cidade de
Pafos, ainda em Chipre, onde enfrentarão o primeiro grande desafio.
Pafos
- Em Pafos, o procôsul Paulo Sérgio, autoridade maior da ilha, toma conhecimento dos missionários, se interessa em conhecer a mensagem que pregam e os chama à sua presença. Que grande oportunidade!
- Os missionários, exultantes, comparecem e testificam de Jesus a Paulo Sérgio, que os ouve com atenção, e de coração aberto à Palavra.
- Enquanto pregam, surge um problema inesperado e no mínimo inusitado: a figura de Barjesus, um mágico e falso profeta. Trata-se de um judeu oportunista e picareta; aquele tipo que usa da credulidade e tendência mística das pessoas em proveito pessoal. Paulo Sérgio, homem inteligente mas supersticioso e sem qualquer discernimento espiritual trás, bem próximo de si, a figura de Barjesus. Uma espécie de profeta particular.
- O tal profeta, percebendo o interesse e atenção de Paulo Sérgio para com a mensagem pregada pelos missionários, fica ansioso e tomado pelo sentimento de que esta perdendo espaço. Com certeza, a eventual conversão e libertação do procônsul implicará, para ele, na perda de vantagens pecuniárias, de prestigio e posição social, o que definitivamente não quer que aconteça.
- Saulo, enquanto fala, é interrompido a todo momento pelo falso profeta, que o contradiz e a ele se opõe.
- Movido pelo Espírito, decide, então, acabar com a farsa. Olha firme e direto nos olhos de Barjesus, e com grande autoridade, desnuda-o e desmascara o engano:
“Ó filho do diabo, cheio de todo engano e de toda a malícia, inimigo da justiça, não cessarás de perverter os retos caminhos do Senhor?
Pois, agora, ai está sobre ti a mão do Senhor, e ficarás cego, não vendo o sol por algum tempo”(Atos 13:10,11)
- Continua o texto bíblico:
“No mesmo instante, caiu sobre ele névoa e escuridade, e, andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão”(Atos 13:11)
- Resultado final do dramático episódio:
“Então, o procônsul, vendo o que sucedera, creu maravilhado com a doutrina do senhor” (Atos 13:12)
Refletindo;
Este episódio deixa claro a liderança de Saulo. É ele quem dirige a palavra ao procônsul e é ele quem encara e desmascara Barjesus. Percebe-se, a partir daqui, uma mudança de foco na liderança. Saulo, a quem, doravante, chamarei de Paulo, torna-se o líder, e não Barnabé, que parecia mais afável e menos enérgico. Tudo, todavia, muito natural; nada de viés político e formal.
Perge
- Cumprida a missão em Chipre, os missionários deixam Pafos e navegam na direção de Perge, na Panfília.
- Pouco tempo permaneceram naquela cidade e parece não terem desenvolvido, ali, atividade missionária de maior relevância.
- O que marcou a passagem por Perge foi a decisão imatura e precipitada de João Marcos, de abandonar, por alguma razão que não sabemos, os companheiros de missão e retornar para Jerusalém. A atitude de
João Marcos aborreceu Paulo e vai se tornar motivo de separação entre ele e o amigo Barnabé, por ocasião da segunda viagem missionária.
Antioquia(Pisídia)
- De Perge, os missionários vão para Antioquia da Pisídia, na Ásia Menor, onde permanecem por bom tempo.
- Diferente de Perge, as experiências vividas em Antioquia da Pisídia foram intensas, desafiadoras e gratificantes.
- Paulo e Barnabé, chegado o dia de sábado, dirigem-se à Sinagoga, se assentam normalmente e assistem o culto judaico, que tem como principal elemento a leitura da lei e dos profetas.
- Ao final, é-lhes dada a palavra. Certamente que vindos de Jerusalém ou proximidades, terão, da parte de rabinos e autorizados intérpretes da lei, algo de especial a lhes dizer: uma exortação, uma boa notícia e, sobretudo, uma palavra de sabedoria e de consolo para eles, judeus da diáspora.
- Esta aberta a oportunidade para Paulo apresentar Jesus como sendo o cumprimento de antigas promessas, feitas aos pais e profetas. E ele o faz com clareza e persuasão.
- Sua palavra é bem recebida e são convidados(Paulo e Barnabé) a retornarem no sábado seguinte.
- O testemunho de Paulo na sinagoga terá repercussão bem maior que ele mesmo poderia imaginar. Imediatamente após o término da reunião, e durante toda a semana, Paulo e Barnabé foram assediados por judeus que queriam ouvir mais acerca de Jesus; de sua morte e ressurreição. A coisa tomou uma dimensão tal que, chegado novamente o dia de sábado, a sinagoga ficou abarrotada de gente. Vejam o testemunho de Lucas, também companheiro de viagem;
“ No sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir a
Palavra de Deus” (Atos 13:44)
- Na proporção do êxito também vieram os problemas. Os judeus, por meio de sua liderança, não gostaram nada do que viram e, tomados de inveja, partiram para o confronto. E aí rolou infâmia, blasfêmias e certamente que indignidades outras, bem típicas do sectarismo e da paixão religiosa de todos os tempos.
- Paulo, à vista disso, radicaliza a sua posição e decide por em prática a compreensão do evangelho que vem recebendo desde os tempos de retiro nos desertos da Arábia:
“Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos considerais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios”(Atos 13:46)
Refletindo:
Em seu retiro nos desertos da Arábia, e anos seguintes, Paulo recebeu a revelação e compreensão da universalidade do evangelho, sem todavia, abrir mão da importância e relevância dos judeus na história da fé. “são israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne...”(Rom. 9: 4,5).
Procurava manter o principio: "primeiro do judeu" mas nunca se esquecendo: " e tambem do grego".
Em razão de suas origens, de sua formação, de suas heranças espirituais e religiosas, vem, até aqui, priorizando a sinagoga; sempre, no entanto, rejeitado, contestado, perseguido e ameaçado de morte.
Em razão de suas origens, de sua formação, de suas heranças espirituais e religiosas, vem, até aqui, priorizando a sinagoga; sempre, no entanto, rejeitado, contestado, perseguido e ameaçado de morte.
Parece chegada a hora de aprofundar o distanciamento de sua
própria gente e caminhar firme na direção dos gentios. Afinal,“Veio
para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos
quantos o receberam , deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus” (Jo.1:11,12).
Toda ruptura, com efeito, é dolorosa mas não poucas vezes
necessária. “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica
ele só; mas se morrer produz muito fruto”(Jo.12:24)
- Paulo está impressionado: diferente da comunidade judaica, gentios(pagãos) da cidade, e de toda a região, estão recebendo com júbilo, e em massa, a mensagem do evangelho. Uma revolução espiritual!
- O final da missão em Antioquia da Psídia é dramático: a liderança judaica instiga “mulheres piedosas” da elite e, também os dirigentes da cidade, que perseguem e expulsam os missionários de seu território.
- Expulsos e perseguidos mas alegres e transbordantes do Espírito, partem em direção à próxima cidade: Icônio. Não sem antes sacudir “contra aqueles(judeus resistentes, sectários e intolerantes)o pó dos pés”(Atos 13:51).
Icônio
- Percebe-se os fatos se repetindo, apenas com variações. O padrão é o mesmo: os missionários indo à sinagoga e dando vigoroso testemunho de sua fé, as multidões, ávidas, recebendo o evangelho e a elite judaica instigando, tanto judeus quanto gentios, contra os missionários. Em Icônio nada será diferente:
“E falaram de tal modo que veio a crer grande multidão, tanto de judeus como de gregos. Mas os judeus incrédulos incitaram e irritaram os gentios contra os irmãos...Dividiu-se o povo da cidade: uns eram pelos judeus; outros, pelos apóstolos.
E, como surgisse um tumulto dos gentios e judeus associados com as autoridades, para os ultrajar e apedrejar...fugiram para Listra e Derbe, onde anunciaram o evangelho”(Atos 13:1-7)
Listra
- Listra é o lugar da grande provação nesta viagem. Uma experiência de sofrimento e de grande resistência emocional, espiritual e física. Impossível visualizar a experiência dos missionários nesta cidade, Paulo em especial, sem marejar os olhos com lágrimas. Nela, os fatos ganharam características tão especiais que o padrão, anteriormente mencionado, não foi seguido.
Listra era uma fortaleza de paganismo e de idolatria. Os deuses, gregos ou romanos, povoavam o inconsciente coletivo e ditavam as práticas e costumes da cidade. O templo de júpiter lá estava, como símbolo da religiosidade daquela gente. Um ambiente carregado de misticismo e crença em forças sobrenaturais.
- Fugindo à regra, o lugar da pregação é a praça pública e não a sinagoga. Em seu testemunho, Paulo tem como ouvinte atento um homem aleijado que nunca andara, porque paralítico desde o nascimento.
- À medida que prega, a fé salvadora e libertadora vai crescendo naquele ouvinte atento, e Paulo, percebendo isso, recebe de Deus a testificação de que tem fé suficiente para ser curado. A palavra de autoridade é pronunciada:
“Apruma-te direito sobre os pés!”
- E o homem, de um salto, se pôs de pé e começou a andar.
- Um grande milagre e um tremendo de um problema que está chegando. Senão vejamos:
- A multidão, ante a notoriedade do milagre, aflui, agitada, na direção de Paulo e Barnabé, considerado-os como sendo a encarnação dos deuses Júpiter e Mercúrio. “Os deuses, em forma de homens, baixaram até nós!” Este era o grito da multidão agitada e em “êxtase”.
- Barnabé, talvez em razão de sua idade e aspecto físico, é associado à figura de Júpiter, versão latina de Zeus, deus dos gregos, e Paulo, de aparência e físico menos impressionantes mas fluente na palavra, é reconhecido como sendo a encarnação de Mercúrio, versão romana de Hermes, o deus que interpreta, que é porta-voz de Zeus e outros deuses supremos da Grécia.
- O templo de Júpiter esta ali, imponente e bem próximo, e o seu sacerdote, claro, não vai perder a oportunidade de liderar esse “avivamento” que, certamente, lhe trará vantagens sejam elas religiosas, pecuniárias ou de liderança. É sempre assim!
- Barnabé e Paulo foram apanhados de surpresa. Não entendendo a língua licaônica e ainda sem o conhecimento da índole religiosa daquela gente, só perceberam a extensão do problema quando viram, ali, bem próximo da entrada do templo de júpiter, o colorido das grinaldas, que eram estendidas, e os touros, já prontos para o sacrifício, em honra deles.
- Que confusão! Os missionários, que ali estavam para tirar aquela gente da crendice, da superstição, do paganismo e idolatria se vêem, agora, na iminência de receber adoração e sacrifícios. Para impedir tamanha insanidade só mesmo um gesto dramático e corajoso.
- Barnabé e Paulo, horrorizados, rasgam suas vestes e saltam para o meio da multidão:
“Senhores, por que fazeis isto?Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles...” (Atos 14: 15-18)
- Com dificuldade, impediram o culto iminente. A multidão estava excitada e eufórica. Afinal, pensavam, aquilo que era apenas subjetivo se materializou, e em forma viva. A gente pode ver, pegar, usufruir. São deuses mesmo! Fizeram um milagre e estão juntos de nós!
- Na proporção da euforia veio a frustração e a indignação. Devem ter pensado: “Demos como absolutamente certo um acontecimento único e que tornaria nossa cidade e nossos deuses ainda mais famosos, para, ao final, vivermos essa frustração, causada pela presença desses estrangeiros”.
- Os judeus de Antioquia(Pisídia) e Icônio, tomando conhecimento do episódio e da frustração e ambiente hostil que se formara, não perderam tempo. Era o que mais queriam!
- A multidão é instigada pelos judeus. Paulo é apanhado, apedrejado, dado como morto e arrastado para fora da cidade.
- Recobrando os sentidos e apoiado pelos discípulos, vai, machucado e ferido, para Derbe.
Refletindo:
Quando vejo a reação de Paulo e Barnabé, ante a iminência de serem cultuados, fico pensando na enorme diferença em relação ao que se tem visto nos arraias ditos evangélicos destes dias, onde líderes fazem questão de serem incensados e tratados como semideuses. Os touros e as grinaldas foram energicamente rejeitados por Paulo e Barnabé. À luz do que temos visto, como agiriam algumas comunidades e lideres de hoje diante de situaçao semelhante?
Derbe: última cidade
Felizmente não há registro de problemas e perseguições em Derbe. Paulo precisava disso para recuperar as energias e curar as feridas. Ainda assim não tirou férias. Enquanto se recupera, prega e faz discípulos. Muitos discípulos.
Refletindo
São estas as cidades da Galácia, para onde Paulo levou o evangelho, e são estas as comunidades de fé(igrejas) que ele implantou, com tanto esforço e tamanho sofrimento. Pode-se entender, agora, a razão de sua veemência, ao tomar conhecimento dos desvios e prejuízos causados pelo legalismo, que se infiltrara nas igrejas, trazido por cristãos judaizantes, vindos provavelmente de Jerusalém.
O retorno: É chegado o momento de tomar o caminho de volta
- “ E tendo anunciado o evangelho naquela cidade(Derbe) e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, Icônio, e Antioquia, fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus”(Atos 14:22)
- E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido (Atos 14:23)
Refletindo:
Esses presbíteros foram escolhidos pela igreja local, certamente que sob a supervisão de Paulo e Barnabé. Saídos, portanto, de seu próprio meio, ou seja: da própria comunidade, mediante o reconhecimento de que teriam recebido de Deus o dom para aquele ministério específico.
Sempre achei estranha, à luz da Bíblia e da realidade prática, o costume, bem comum em igrejas batistas, de importar presbíteros(pastores) de comunidades distantes, ou de seminários, para pastoreá-las.
Pode até ser charmoso e conveniente à vaidade de setores da igreja local, mas não poucas vezes se transforma em fonte de problemas e de frustrações.
Vai-se dizer que Paulo, ao orientar na escolha de presbíteros, tirados da própria comunidade, fez o inevitável, visto ser a igreja ainda incipiente. Creio que mesmo em circunstâncias favoráveis, o padrão seria o mesmo. O pastoreio deve refletir os anseios da comunidade de fé; e ninguém melhor que filhos dessa mesma comunidade para entender as suas carências. Afinal, falam a sua língua e refletem a sua realidade.
- “Atravessando a Pisídia, dirigiram-se à Panfília. E tendo anunciado a Palavra em Perge, desceram a Atália e dali navegaram para Antioquia(da Síria), onde tinham sido encomendados à graça de Deus para a obra que haviam cumprido” (Atos 14:24-26)
Antioquia da Síria: Ponto de partida e ponto de chegada
- A igreja se reúne para ouvir o relato dos missionários.
Em Antioquia foram encomendados à graça de Deus e de lá saíram para a grande aventura de fé. Foram dois anos de alegrias, de expectativas, de experiências dramáticas, de sofrimento. Muito sofrimento! O corpo traz cicatrizes mas a alma não se cabe, tamanha é a alegria e a certeza de que o evangelho é universal e deve ser levado a todos os povos da terra. A compreensão, recebida nos desertos da Arábia, de que “os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho”, se consolida em definitivo. Os fatos assim o fazem.
- Paulo e seu companheiro Barnabé retornam à normalidade da vida na igreja. Por quanto tempo não sabemos, senão que demoraram, até que tivesse início a segunda viagem missionária. Diz o texto:
“ E permaneceram não pouco tempo com os discípulos”(Atos 14:28)
- Passada a euforia do retorno, Paulo percebe que as coisas em Antioquia não vão bem. Legalistas, vindos da Judéia, estão semeando a cizânia na igreja, que já não mais é a mesma. Uma pena! Mas o problema está criado, a comunidade de irmãos está dividida e a questão, se não for tratada com energia e firmeza, vai se espalhar e contaminar outras igrejas gentílicas como, infelizmente, aconteceu. Veremos isso em capítulos seguintes
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