Fora do Arraial, a caminhada pode ser longa e com
desertos à frente mas também com oásis, palmeiras e regatos de águas cristalinas
e borbulhantes, onde peregrinos e caminhantes da fé se acampam. Porque, para
estes, deserto não foi e nunca será lugar de habitação final. Deus lhes tem
reservado algo infinitamente melhor!
Fora do Arraial, há que se encarar o desafio de longa caminhada,
pés doídos e pele de beduínos, mas carregando sempre, na alma e no corpo, um
bem que supera todos os valores deixados para traz: a preciosa liberdade de
celebrar, de cultuar, de servir a Deus e ao próximo, sem nada a temer. Faraó e
seus exatores ficaram para trás. Lá no velho Egito, cuidando de suas torres, de
seus palácios, de seus templos e construindo suas pirâmides. Egito, nunca mais!
Fora do Arraial, não se constrói presídios, de máxima
ou mínima segurança, com suas muralhas e cercas de arame farpado. A única
prisão que se quer e se busca é a consciência cativa do Evangelho, que é
libertador e restaurador; o único fardo que se carrega é o fardo de Jesus, que
é leve e gostoso de ser carregado e o único jugo desejável é o jugo suave dÊle,
saturado de amor, de graça e de misericórdia. Que ninguém cometa a loucura de
estabelecer, Fora do Arraial,
ambientes opressivos e nem construir cubículos mal-cheirosos, entulhados de
tabus, de leis, de regras da religião e coisas do gênero.
Fora do Arraial, arma-se tendas. Apenas isto. Leves e
desmontáveis. Como fazem os peregrinos. O que conta é caminhar. Caminhar
sempre. Cruzar fronteiras. E para caminhar é preciso leveza, simplicidade e um
viver desinstalado.
Fora do Arraial, ou fora dos muros, vê-se, na solidão
da cruz, fincada no alto da montanha desnuda, o Cordeiro Imolado, que atrai e
que chama à plena identificação. Ali, a dívida foi cancelada e os grilhões
foram definitivamente quebrados. Livres ficamos para adorar ao Deus Único e
Verdadeiro, para proclamar que Jesus Cristo já pagou o preço e para amar de
verdade, sem qualquer tipo de discriminação. Amar como Ele amou e ama. E
para dizer que há vida, que há esperança em Cristo Jesus.
Fora do Arraial, a graça de Deus foi revelada e veio
até nós. Impetuosa como a cachoeira e abundante como o rio caudaloso. Não
domesticada, não diminuída e nem engessada por pressupostos de moralidade e
condicionamentos da religião. Somos desafiados a vivê-la e torná-la conhecida
de todos.
Fora do Arraial, somos irmãos. Todos irmãos. Chamados à
solidariedade, à compreensão dos dramas e ambivalências de nosso próximo; ao
exercício dos atos de compaixão e misericórdia, sem os condicionamentos e
cobranças morais, saídas dos templos e mentes formatadas pelos modelos religiosos.
Fora do Arraial, não se discrimina quem quer que seja.
Todos são iguais e do mesmo valor. Cristo morreu por todos e ama a todos. Não
se quer saber de folha corrida de ninguém e também não se fixa no
passado de ninguém. Nuances e particularidades, pertencem ao passivo de uma
raça caída mas resgatada pelo precioso sangue de Cristo.
Fora do Arraial, a Palavra divina é pregada em
simplicidade. E se cuida para que a ela não sejam agregados penduricalhos da
religião. Sempre atentos à sua essencialidade. Crendo que, por si mesma, é
suficiente para corrigir, para redargüir e para transformar vidas.
Fora do Arraial, a relevância está no Evangelho e na
pessoa de Jesus. O desafio é amá-Lo e servi-Lo; é seguir o Seu exemplo;
aprender com Ele e fazer como Ele fez.
Fora do Arraial, as pessoas são estimuladas a se
assumirem com coragem e honestidade. Sem medo, sem fugas, sem sutilezas e sem
malabarismos de conduta e de linguagem. Aceitação é palavra importante no
dicionário Fora do Arraial.
Transparência é virtude a ser cultivada e confronto com a verdade é caminho
seguro para que se estabeleçam relacionamentos fortes e duradouros. O cultivo
da maturidade passa pelo respeito e aceitação das pessoas ainda que nem sempre
concordando com situações específicas e pontos de vista particularizados.
Fora do arraial, reconhecemo-nos seres inacabados mas
em construção. Permanente construção. Sempre caminhando, sempre
aprendendo e abertos ao aprendizado. E assim continuaremos, enquanto neste
corpo da carne estivermos.
Fora do Arraial, o único dogma é Jesus. Que se reduziu
e se fez humano como nós; que viveu uma vida simples e despojada; que nos
desafiou a seguir o seu exemplo; que foi à cruz e triunfou dos principados e
potestades, garantindo completa redenção.
Fora do arraial, o ato de dar é um ato de gratidão, de
amor e de compromisso com o Reino de Deus, gerado pela consciência do evangelho
e trazendo sempre a marca do desprendimento, da espontaneidade, da alegria e do
reconhecimento de que “nenhuma coisa o
homem terá se do céu não lhe for dado”.
Fora do Arraial, cada pessoa é uma pessoa e deve ser
vista e entendida como tal. As padronizações não contam. Porque há diferentes
níveis de fé e diferentes níveis de compreensão da verdade; e há diferentes
estágios de crescimento. Uns crescem rápido, outros nem tanto e outros nada
crescem. Cada pessoa deve ser aceita, compreendida e ajudada dentro de sua
própria realidade. Aquilo que hoje ainda não é virá a ser no dia de amanhã,
mesmo que no amanhã eterno.
Fora do Arraial, é lugar de festa, de alegria, de
celebração do banquete da liberdade, ainda que no deserto.“Deixa
o meu povo ir para que me celebre uma festa no deserto”.
Fora do Arraial, está a cruz ensangüentada que atrai e
que chama à plena identificação. Porque “se
com ele sofrermos, também com ele seremos glorificados”. “Saiamos,
pois, a Ele, fora do arraial, levando o seu vitupério”.
Ao
Único Deus!
Dnl
Grande Daniel, com certeza foi o texto produzido por você mais belo que eu já li. Mais esclarecedora explanação da nossa proposta de Fe, comunidade e Evangelho Eu nunca vi. Um Abraço, que o Espirito Santo de Deus continue te iluminando.
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