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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Religião e alucinação

                                                                                                                  (Ricardo Gondim)
Tenho muita pena dos crédulos. Chego a chorar por mulheres e homens ingênuos; os de semblante triste que lotam as magníficas catedrais, na espera de promessas que nunca se cumprirão. Estou consciente de que não teria sucesso se tentasse alertá-los da armadilha que caíram. A grande maioria inconscientemente repete a lógica sinistra do “me engana que eu gosto”.
Se pudesse, eu diria a todos que não existe o mundo protegido dos sermões. Só no “País da Alice” é possível viver sem perigo de acidentes, sem possibilidade da frustração, sem contingência e sem risco.
Se pudesse, eu diria que não é verdade que “tudo vai dar certo”. Para muitos (cristãos, inclusive) a vida não “deu certo”. Alguns sucumbiram em campos de concentração, outros nunca saíram da miséria. Mulheres viram maridos agonizar sob tortura. Pais sofreram em cemitérios com a partida prematura dos filhos. Se pudesse, advertiria os simples de que vários filhos de Deus morreram sem nunca verem a promessa se cumprir.
Se pudesse, eu diria que só nos delírios messiânicos dos falsos sacerdotes acontecem milagres aos borbotões. A regularidade da vida requer realismo. Os tetraplégicos vão ter que esperar pelos milagres da medicina - quem sabe, um dia, os experimentos com células tronco consigam regenerar os tecidos nervosos que se partiram. Crianças com Síndrome de Down merecem ser amadas sem a pressão de “terem que ser curadas”. Os amputados não devem esperar que os membros cresçam de volta, mas que a cibernética invente próteses mais eficientes.
Se pudesse, eu diria que só os oportunistas menos escrupulosos prometem riqueza em nome de Deus. Em um país que remunera o capital acima do trabalho, os torneiros mecânicos, motoristas, cozinheiros, enfermeiras, pedreiros, professoras, terão dificuldade para pagar as despesas básicas da família. Mente quem reduz a religião a um processo mágico que garante ascensão social.
Se pudesse, eu diria que nem tudo tem um propósito. Denunciaria a morte de bebês na Unidade de Terapia Intensiva do hospital público como pecado; portanto, contrária à vontade de Deus. Não permitiria que os teólogos creditassem na conta da Providência o rio que virou esgoto, a floresta incendiada e as favelas que se acumulam na periferia das grandes cidades. Jamais deixaria que se tentasse explicar o acidente automobilístico causado pelo bêbado como uma “vontade permissiva de Deus”.
Se pudesse, eu pediria as pessoas que tentem viver uma espiritualidade menos alucinatória e mais “pé no chão”. Diria: não adianta querer dourar o mundo com desejos fantasiosos. Assim como o etíope não muda a cor da pele, não se altera a realidade, fechando os olhos e aguardando um paraíso de delícias.
Estou consciente de que não serei ouvido pela grande maioria. Resta-me continuar escrevendo, falando… Pode ser que uns poucos prestem atenção.

Soli Deo Gloria

7 comentários:

  1. Ontem à noite, postei esse texto do Gondim no Face. Maravilhoso!!!
    Basta de evangelho da prosperidade, da contabilização de almas e da opressão àqueles que "não deram certo"!
    Basta! Quero simplicidade, paz e "pés no chão"!

    Forte abraço

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  2. Hum, de novo alfinetes!!

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  3. Vou postá-lo no meu Blog. É isso aí!
    O evangelho da normalidade é bem mais difícil de ser vivido, mas nos traz muita PAZ!
    Fica difícil o humano querer explicar tudo com o Divino, daí surgem frustrações, e uma esperança tardia que adoece a alma.

    Abraços

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  4. Se o quiserem ler no próprio blog do Pr. Gondim, é só clicar em http://www.ricardogondim.com.br/meditacoes/religiao-e-alucinacao/ . Está sempre tendo bons textos por lá. Bjs!!!

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  5. Cuidado, quero só da um alerta!!
    Existe pessoas infiltradas dentro da reunião de vcs, para passar informações aos outros de nova canãa.
    Sou anõnimo e prefiro não me expor, mas mediante as mensagens fortes que foram deixadas, ( eu acompanhei quase todas), resolvi da esse alerta á vcs.
    Essas informações são sempre passadas e de uma maneira distorcida, por isso achei que vcs deveriam saber e ficar mais atentos, pois nem todo mundo que bate na nossas costas são realmente amigos de verdade, ou seja na verdade são espiões disfarçados!!

    Obrigado pela atenção.

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    1. Não se preocupe, todos são bem-vindos. Quem vier aos encontros irá descobrir pessoas que vivenciam e trocam experiências buscando conhecer a Palavra de Deus e aprender que na Graça de Deus há liberdade. Que o julgo Dele é leve, e que não importa quanto pecadores somos, porque todos somos, o amor de Deus nos constrange.

      Espero que venham os infiltrados, disfarçados e também os de cara limpa. O importante é estarmos abertos a receber as pessoas como elas são. O resto a gente deixa com Deus!

      Creio que o maior desafio hoje é ser uma igreja que ama!
      E é isso que eu busco a cada dia.

      Abs,
      Helen Baesse

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  6. Fé e Inspiração (Artur de Souza)

    Tenho muita admiração pelas pessoas que tem fé. Não aquela ingenuidade da crença, mas a fé que é uma esperança viva, que nos conduz a fazer coisas dignas em um mundo não tão digno assim. São pessoas generosas, preocupadas com o próximo, ocupadas demais para perder tempo com as armadilhas da religião. Nem sempre são cultas mas todas são inteligentes.

    Se pudesse, diria a cada uma delas como é inspirador vê-las seguir em frente, em um mundo cheio de acidentes, frustrações, riscos e poucas certezas. De onde tiram tanta confiança?

    Se pudesse, diria para cada uma delas que o que todos chamam de sucesso, como dinheiro, saúde, prestígio, etc, não é nada comparado ao que elas tem. Uma pessoa de fé nos dá a impressão que achou ‘algo mais’, algo muito mais excelente, e mesmo quando submetida a toda sorte de tristezas e infortúnios (por que de um jeito ou de outro, em maior ou menor grau, eles sempre aparecem) ela ainda encontra razões e forças, seja para viver, seja para morrer.

    Se pudesse, diria para cada uma dessas pessoas de fé que a história delas é de superação. Cada dia é como se fosse um milagre e a gratidão que elas sentem por cada um deles é realmente impressionante. Podemos ver cadeirantes terminando seus estudos, pessoas com síndromes diversas trabalhando, e amputados disputando recordes olímpicos. Da fraqueza elas tiram força e nos mostram uma fé muito mais prática que teórica.

    Se eu pudesse, diria a cada engenheiro, ou médico, ou juiz que um dia foi um garoto pobre de uma favela que a determinação que eles tiveram em estudar, em abrir mão de lazer e seguir na contramão da estatística é um exemplo de fé para qualquer um de nós. Uma fé que trás dignidade a quem a tem, não pelo merecimento mas pela graça de não ter ficado pelo caminho como tantos outros.

    Se eu pudesse, diria a cada pessoa que luta pela causa da justiça, que defende o oprimido e que se gasta em favor daqueles que nada tem que o trabalho deles é muito mais sagrado do que o do teólogo da academia. O que este escreve como teoria, aqueles conseguem demonstrar na prática: Deus não está mais no Templo, mas nas pessoas, e em especial nos pequeninos, nos pobres de espírito e nos que ‘nada são’. E isso é uma verdadeira revelação que só entende quem tem fé.

    Se eu pudesse, mostraria em cada púlpito de cada igreja a história de vida de cada um desses homens e mulheres de fé. Uma história que acontece fora dos templos, na vida ‘real’ das pessoas, trazendo um pouco de vida onde antes havia morte. A ‘pregação’ deles sempre é de ressurreição.

    Estou consciente de que não tenho como falar a cada uma dessas pessoas. Elas estão ocupadas demais com a mão no arado para dar gastar tempo comigo. Resta tentar seguir seu exemplo. Quem sabe outros também seguirão?

    Fonte: http://www.ricardogondim.com.br/meditacoes/religiao-e-alucinacao/

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