Acabo de ler o belo texto da Marília Cesar, publicado no
Facebook por meu amigo Carlos Bregantim. É um prazer reproduzi-lo em meu blog.
Reparto com
vocês este lindo texto da amiga irmã Marilia Cesar jornalista autora de FERIDOS
EM NOME DE DEUS. Vale ler!
Carlos Bregantim
Vá para casa
"Levante-se, pegue a sua maca e vá para casa". (Mateus 9: 6)
Quem viaja muito sabe como é bom chegar em casa.
Largar no chão as malas abarrotadas de reminiscências, tirar os sapatos e
jogar-se no sofá: alívio.
Casa é lugar de descanso. É lugar onde podemos andar feios, descabelados, de
pijama velho, de remela no rosto, podemos andar nus, desfilando, altivos, pelos
corredores, sem ninguém para nos julgar por estes nossos pequenos ridículos.
Podemos andar nus e só os que são íntimos verão nossas cicatrizes. Num primeiro
momento, podem franzir o cenho diante de estranhos, pérfidos sinais. Mas logo,
compassivos, vão querer beijá-los, nos trazendo paz.
Estamos, afinal, no ambiente mais amigável do mundo, o mais acolhedor e seguro:
estamos em casa.
Casa é lugar de fazer listas de compras, listas dos livros que queremos ler,
listas de prioridades. É o lugar onde nossa mente se ordena, porque ali
encontramos sossego para tanto, protegidos da pressão e da correria da vida.
Casa é lugar de organizar a vida, porque lá fora tudo está de cabeça pra baixo,
confuso e cada vez mais frágil, as relações são líquidas e nos escorrem pelos
dedos, os sentimentos são voláteis e amanhã já não serão o que são hoje.
Casa é lugar de sentimentos confiáveis, de afetos transparentes, para o bem e
para o mal, de olhar no olho do outro e declarar - eu te amo de verdade, eu
estou com muita raiva, eu quero te beijar e te pegar no colo, eu quero um tempo
para estar só. Estou em casa e isso me basta.
Casa é onde podemos ser quem somos, com nossas macas a tiracolo, a lembrança de
nossos fracassos sempre à espreita, de nossas paralisias, de nossa dependência
do outro.
Casa é lugar de andar descalço e relembrar que um dia fomos libertos da
opressão da mendicância, que não precisamos mais de tamanhos esforços para
sermos aceitos, dessas máscaras que nos demandam tanta energia vital, da mão
estendida à beira da estrada à espera de esmolas.
Já estamos em casa, já chegamos ao lugar onde o coração repousa, onde a dor
encontra consolo e as palavras nem são mais tão necessárias.
Em casa, podemos calar e haverá sempre quem ouça essa pausa e a compreenda e
saiba bem interpretar os nossos silêncios.
Casa é o lugar onde o Reino de Deus se instala, é nosso coração pacificado
depois da longa jornada, é onde um servo amoroso nos lava os pés e nos oferece
uma farta refeição de boas vindas.
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