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sábado, 21 de julho de 2012

Falando francamente


Vieram-me à memória fatos de meus primeiros anos em Betim e Nova Canaã.

Éramos ainda poucos, desprovidos de recursos e cultuando em salão alugado.

Sempre aos domingos, ao cair da noite e antecedendo o culto, descíamos em grupo, jovens em sua maioria, para a praça central e ficávamos em círculo, bem próximos ao Banco Nacional(hoje, Unibanco/Itaú). Enquanto cantávamos, as pessoas iam se aproximando; pregávamos e terminávamos cantando, com muita gente à nossa volta. Então nos dirigíamos para o salão alugado, não sem antes fazer um arrastão, levando conosco tantos quantos pudéssemos fazê-lo.

Lembro-me de uma de nossas várias idas ao sertão mineiro, em ônibus especial, para retiro de oração e estudos bíblicos.

O local de hospedagem da caravana ficava 30 quilômetros distante da cidade de Bocaiúva, onde havia uma igreja pequena e muito carente. Metade do percurso(cerca de 30 Km) era estrada de terra, em precárias condições.

Tínhamos, no decorrer do dia, reuniões de estudo bíblico e intercessões. Bem à tarde,  subíamos na carroceria de um caminhão aberto, tipo pau-de-arara, e rumávamos para a cidade, onde cantávamos e pregávamos, com apresentações especiais.  Lá pelas 22:00 horas, retornávamos para a fazenda, local do acampamento, chegando próximo da meia-noite, irreconhecíveis, tão cobertos estávamos de poeira. Empoeirados sim, mas felizes, radiantes e prontos para o dia seguinte.(*)

O que estou querendo dizer com estas lembranças?

Há duas coisas  que se não existirem em nós, e não andarem juntas, tornará a fé uma coisa vazia, insossa e completamente destituída de sentido. Um mero clube de amigos que se encontram para coisas boas, sim, mas passíveis da rotina e da trivialidade. Refiro-me ao ideal da fé, alavancado pela paixão.

É evidente que hoje  não mais cabem ações do tipo que acabei de contar. O mundo mudou, os tempos mudaram e a igreja tem mudado... para pior!

Hoje temos a facilidade da telefonia, da Internet, da comunicação abundante, do carro ao alcance de muitos, ferramentas impensáveis há trinta, quarenta anos.

Digo que não estou com saudosismo das ações de uma época que já se foi. Os tempos mudam, a cultura muda, as circunstâncias se alteram.

Há, no entanto, uma coisa que não pode mudar, que não se pode perder: A priorização dos ideais de fé; a paixão, a garra, o espírito de sacrifício e de doação. Se estas coisas morrem em nós a vida se transforma num engano, numa grande bobagem. Um amontoado de frescuras e vaidades. E o nosso mundo interior pede mais que isso. Ele nos diz que antes de sermos feitos para esta vida, fomos feitos para a eternidade.

Não estou estimulando ninguém a embarcar no velho ativismo religioso, que engana, que desfoca, que cansa, que estressa, que consome energias para, ao final, se concluir que não se passou de instrumento útil de instituições que se retro-alimentam.

Estou, isto sim, exortando a caminharmos na direção daquilo que de fato é relevante.

Estou dizendo que precisamos ser idealistas, solidários e apaixonados por Jesus e pelo seu Reino.

Estou dizendo que precisamos de mais garra, mais
disposição, mais amor à causa que entendemos ser verdadeira e razão de nossos ideais de fé.

Estou dizendo que precisamos contribuir financeiramente para que avancemos. Porque “onde estiver o vosso tesouro aí estará o vosso coração”

Estou dizendo que precisamos oferecer o nosso ombro amigo àqueles que estão precisando de carinho e de consolo.

Estou dizendo que precisamos comunicar Jesus através da vida e de ações concretas de misericórdia, que exijam de nós renúncia e desprendimento. Porque se declaramos que somos seguidores de Jesus de Nazaré mas não abandonamos a  nossa zona de conforto, não tiramos o pijama ou a camisola para por a roupa de guerra, é sinal de que pouco temos a ver com o Reino que, de boca, proclamamos.

O Reino pede de nós coragem, sacrifício e dedicação. Jesus foi terrivelmente exigente: “Aquele que não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo

Então:

- Que contribuamos financeiramente com aquelas causas que, de fato, cooperem no estabelecimento do Reino de Deus entre os homens;  sem miséria, sem álibis, sem justificativas injustificáveis. Com alegria, com amor, com paixão e desprendimento.

 - Que levemos água para quem tem sede, no mais amplo e abrangente sentido do termo.

- Que alimentemos o faminto; de verdade e sem cobranças.

- Que abracemos a prostituta,  o miserável, o marginalizado; sem medo das insinuações e cobranças de fariseus.

- Que tenhamos a coragem de tomar café com aqueles que por ai estão, segregados e rejeitados pelo establishment

Porque só há uma maneira de seguir a Jesus: no próximo!

- Jesus tem que ser visto naquele que tem sede, que está enfermo ou caído à beira do caminho; que está nu, que está doente, que está discriminado pela “igreja” e pela sociedade.

Se continuamos estanques, acomodados em nossa vidinha e zona de conforto, apenas gratificando-nos na masturbação  de conceitos e teorias, logo estaremos enfadados e remoendo nossas próprias contradições.

Diz a Palavra divina “Levantai-vos e andai porque aqui não é o vosso lugar de descanso”.

Reflita e se posicione!

Um beijo,

Dnl
(*) Neste mesmo local, agora mais confortável, vamos realizar o Fé Consciente -2012 

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